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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

O mito acerca dos cemitérios

É comum ouvirmos pessoas dizendo que chegam não tem coragem de chegar perto de cemitérios.Os antigos ainda passam para as novas gerações que após chegarmos em casa do cemitério, devemos colocar a roupa que fomos no cemitério para lavar e não entrar com o sapato dentro de casa O mito criado em cima do cemitério revela que lá é um local de energia forte, pesada e cheio de espíritos que irão ficar correndo atrás de você. Uma grande pena, pois desestabilizou um dos locais de profunda reverência aos antepassados.
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Cemitério da Consolação, inaugurado em 1858. Referência brasileira em arte tumular. Na foto túmulo de Campos Salles, o 4º Presidente do Brasil. Foto extraída do Estadão


A morte para o positivista é a transformação. Todas as memórias daqueles que se foram estarão integradas na vida subjetiva de todos aqueles que aquela pessoa deixou seu legado. Augusto Comte no Catecismo Positivista informa que a transformação é a passagem do ser humano para a integração a um órgão maior, o órgão da Mãe Humanidade.
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Foto da sepultura de Júlio de Castilhos, político e jornalista positivista. Foto extraída do Cemitério da Santa Casa de Porto Alegre

Em culturas orientais, a reverência a um ente falecido é algo sagrado. O Confucionismo, por exemplo possui em suas práticas religiosas a chamada Piedade Filial que seria " a veneração e dedicação dos mais novos ao bem estar dos mais velhos - inclusive já falecidos". Os messiânicos, fundados por Meishu Sama, também dedicam um dia de orações aos falecidos e buscam alimentar sempre as lembranças dos entes queridos. No Budismo, se costuma cremar os falecidos e as cinzas são depositadas em cemitérios, onde sempre a família e convidada a partilhar um momento de reflexão e reverência.


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Símbolo do Confucionismo. Extraído de China Vistos
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Meishu Sama, fundador da Igreja Messiânica. Em seus ensinamentos, Meishu Sama sempre revelou a importância da valorização dos antepassados e sua influência em nosso cotidiano. Foto extraída de Templo Luz do Oriente
Na cultura ocidental, esta prática não é muito comum. O medo de ir a cemitério ganhou até nome: Coimetrofobia.

A famosa frase de Comte relembra que " os vivos são sempre, cada vez mais, governados pelos mortos". Essa frase quer nos promover que elementos fundamentais de nosso dia dia, tiveram sua origem por pessoas que já se transformaram. Graças a Alexander Fleming, por exemplo, a penicilina foi desenvolvida  no século XX. Isso permitiu que inúmeras pessoas ao decorrer do tempo tivessem suas vidas recuperadas. A frase de Comte pode nos remeter a vida de Fleming, como uma pessoa que serviu á Humanidade, e deixou seu legado. Infelizmente nos passa de forma despercebida, mas é necessário sempre recordarmos de servidores que fizeram a diferença na vida humana.

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Alexander Fleming, foto extraída de O Globo


A recordação de um ente deve estar presente na vida das pessoas. Por mais supersticioso que se criou, a morte é algo natural e todos os seres terão seu momento de transformação. O calendário positivista e católico possuem uma festa em comum, o dia dos mortos ( chamado no calendário católico de finados). A homenagem e a reverência aqueles que já foram é algo essencial na vida. Deixar que o lado subjetivo fale, recordar e prestar lembranças aqueles que tiveram papel fundamental em nossa vida, nossa sociedade.

Por mais supersticioso que seja, a morte é algo natural que deve assim ser lidada. Uma pessoa que foi má em sua vida, não ficará vagando entre as lápides tentando levar " ao mal caminho" outras pessoas. Comte diz que todos são chamados a servir à Humanidade, porém nem todos aceitarão essa missão. Uma pessoa que não aceitou a missão de servir, e em sua trajetória foi má, não terá o poder de nos conduzir a caminhos obscuros. Devemos sempre ter em mente, que tudo que acontece com a pessoa a partir do momento da morte, entra para a parte subjetiva, e cabe a nós conduzir tais situações.



Por diversos mitos que são passados de tempo em tempo, perdemos a essência. O Positivismo vem com o objetivo de criar um novo paradigma e mostrar a importância do reconhecimento, tanto aos vivos quanto aos mortos. Comte, por diversas vezes chorou diante da lápide de Clotilde. Prestou reverência e reconheceu a importância dela em sua vida. Comte estabeleceu que sete anos após o falecimento, os restos mortais seriam guardados no Bosque Sagrado do Templo da Humanidade. Essa medida, pelas leis brasileiras, é proibida. Porém essa medida não desestabiliza a ideia central do Positivismo. A incorporação é o selo da pessoa na Humanidade, que pelo seu servir contribuiu pela nossa evolução.


Para os tempos de hoje, é necessário uma reflexão sobre a frase de Teixeira Mendes " Vemos corpos sem alma, mas nunca almas sem corpos". Em nossos tempos, recheados de violência e intolerância, devemos temer os vivos e não os mortos. Os mortos deixam seu legado ( positivo ou não), e cabe aos vivos reconhecerem a importância de cada um e escolherem seu lado.


Saúde e Fraternidade
Luiz Gustavo Mota



































Fontes:
 https://areligiao.blogs.sapo.pt/2584.html - Piedade Filial
http://redeglobo.globo.com/videos/t/auditorio/v/coimetrofobia-caetofobia-conheca-os-nomes-mais-estranhos-de-fobias/2966903/  - Coimetrofobia
https://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,alexander-fleming,900,0.htm - Penicilina
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-as-grandes-religioes-se-despedem-dos-mortos/ - Costumes de reverência aos mortos

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